domingo, 11 de março de 2018

Itália cancela cidadania de mais de mil brasileiros


O esquema tinha participação de funcionários da prefeitura e de brasileiros, que pagavam propina para agentes públicos atestarem a residência de brasileiros que não atendiam requisitos para obter a documentação
Passaporte italiano (Foto: Flickr/ CC BY 2.0 / Victor Casale).

A cidade italiana de Ospedaletto Lodigiano, na Lombardia, anunciou o cancelamento de mais de mil cidadanias de brasileiros descendentes de italianos que, segundo a prefeitura, não atendiam os requisitos para a concessão do documento.

Uma lista contendo 1.118 nomes foi divulgada no site da prefeitura no último dia 9 de fevereiro. Segundo a agência Ansa, os processos cancelados foram abertos entre julho de 2015 e julho de 2017.

Ainda segundo a imprensa italiana, o esquema tinha participação de funcionários da prefeitura e de um casal de brasileiros, que faziam o repasse de propina para agentes públicos atestarem a residência de brasileiros que não atendiam o tempo mínimo de permanência necessário para obter a documentação. Há ainda casos de brasileiros que sequer foram à cidade e que, mesmo assim, obtiveram o atestado de residência.

Residir na Itália é um requisito fundamental para que um brasileiro possa reconhecer a cidadania no país. Normalmente, o processo feito na Itália é mais rápido do que se feito no Brasil, devido às longas filas de espera dos Consulados para o reconhecimento da cidadania.

A investigação começou no meio do ano passado, e o anúncio do cancelamento dos processos feito apenas nesse mês. De acordo com o "Il Giornale", o esquema possibilitou que, apenas em 2016, 500 brasileiros que nunca se mudaram para a área de Lodi, onde fica a cidade de menos de 2.000 habitantes, obtivessem o direito à cidadania.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Árvore genealógica gigante revela novos segredos da história da humanidade

Pesquisadores unificaram milhões de perfis públicos de 
uma página de genealogia colaborativa

A maior árvore genealógica analisada reúne 13 milhões de pessoas.
A maior árvore genealógica analisada reúne 13 milhões de pessoas.
Riccardo Bresciani

Pesquisadores de várias instituições norte-americanas e israelenses aproveitaram dados publicados na Internet por entusiastas de genealogia para traçar a relação de parentesco de 13 milhões de pessoas em uma única árvore genealógica. A documentação dessa grande família abarca uma média de 11 gerações e seu estudo, publicado na revista Science, revelou novos detalhes sobre a influência da cultura ocidental sobre a diversificação genética das populações humanas. A equipe de pesquisa, que reúne geneticistas e cientistas da computação, também analisou a árvore para estimar a base hereditária da longevidade, que calculou em cerca de 16%.
Os dados provêm do site de genealogia colaborativa Geni.com,em que cada usuário completa sua árvore familiar, com a opção de integrar árvores de outros usuários que tenham parentes em comum. Os autores do estudo usaram a teoria de diagramas para limpar e classificar dados de 86 milhões de perfis públicos, na tentativa de fundir todas as famílias disponíveis. Além disso, validaram os resultados usando dados de DNA disponíveis para algumas genealogias. “Pela primeira vez é possível fazer história da população de maneira ampla graças às genealogias coletadas na Internet”, diz Jaume Bertranpetit, cientista do Instituto de Biologia Evolutiva (UPF-CSIC), que não participou do estudo. “De fato, acreditávamos que o caso da Islândia, onde isso já foi feito, fosse único; agora vemos que pode ser muito mais geral”, acrescenta.
A análise obteve 5,3 milhões de árvores desconectadas; a maior delas une 13 milhões de pessoas, um pouco mais do que a atual população da Bélgica. “Toda a humanidade faz parte da mesma família”, diz o autor do estudo, Yaniv Elrich, geneticista e cientista da computação da Universidade Columbia (EUA), que também é diretor científico da MyHeritage, empresa dona do Geni.com. “De acordo com a teoria matemática, se cada pessoa pudesse projetar 75 gerações, completaríamos a árvore genealógica da humanidade, que conectaria todo o mundo: de um aborígene naAustrália, passando por uma pessoa europeia ou africana, até um esquimó no Alasca”, explica Elrich. “E 75 gerações não é tanto, são cerca de 2.000 anos; não estou falando sobre voltar à pré-história”, esclarece.

Migrações por motivo de casamento

Cerca de 85% dos perfis do Geni.com pertencem a usuários daEuropa e dos EUA. Usando o local e a data de nascimento de cada pessoa, os autores criaram um mapa interativo que reflete fielmente os últimos 500 anos de história no Ocidente. Antes de 1750, a maioria dos cidadãos encontrava seu parceiro dentro de um raio de 10 quilômetros do lugar de nascimento, mas dois séculos depois os cidadãos costumavam se casar com pessoas nascidas a mais de 100 quilômetros de distância. Além disso, as mulheres se deslocavam com mais frequência do que os homens, provavelmente devido às oportunidades de trabalho para eles em empresas familiares, embora os homens que viajavam o faziam para mais longe.
O gráfico “segue quase milimetricamente a expansão do império inglês”, observa o geneticista populacional da Universidade de Witwatersrand (África do Sul) Francisco Ceballos, que não participou do estudo. “Poderíamos contar outra história completamente diferente se tivesse sido [um estudo com mais usuários] na Espanha ou no mundo latino”, diz o biólogo. De acordo com Elrich, a causa desse viés é que o Geni.com tem muitos usuários de língua inglesa que têm raízes no Reino Unido, que também foi um dos primeiros países a adotar um sistema de sobrenomes que facilita a genealogia.
Visualização computadorizada de uma das árvores genealógicas de 6.000 pessoas, que abarca sete gerações. Os pontos verdes são indivíduos e os vermelhos são casais.
Visualização computadorizada de uma das árvores genealógicas de 6.000 pessoas, que abarca sete gerações. Os pontos verdes são indivíduos e os vermelhos são casais.
Universidad de Columbia
Entre 1820 e 1875, a chegada do transporte público de massa por trem aumentou a distância que as pessoas viajavam para encontrar um parceiro. Surpreendentemente, isso não reduziu a consanguinidade dos casamentos, que continuaram sendo entre parentes próximos até pelo menos 1850. Os autores sugerem que as mudanças nas normas sociais, e não o aumento da mobilidade, levaram à diversificação genética da população ocidental.

Os genes da vida longa

A equipe também aplicou a técnica centenária de comparar uma qualidade, no caso a longevidade, entre familiares de parentesco diferente – de irmãos a primos distantes – para avaliar a contribuição da herança biológica para essa característica. “O campo da genética humana se baseia na análise de árvores genealógicas: assim começou essa disciplina, antes mesmo de conhecer o DNA”, explica Elrich.
O modelo computacional que os pesquisadores criaram analisou os dados de três milhões de parentes nascidos entre 1600 e 1910 que viveram mais de 30 anos (excluindo gêmeos e vítimas deguerras ou desastres naturais). Os pesquisadores descobriram que a genética explica aproximadamente 16% da variabilidade observada na longevidade: o número está nos valores mais baixos do nível estimado por outros estudos, entre 15% e 30%. De acordo com esses resultados, os autores apontam que a loteria genética nos melhores casos só pode prolongar a vida em torno de cinco anos em média, enquanto as decisões pessoais como fumar podem reduzir a expectativa de vida em 10 anos.
A mesma análise indica que os genes que determinam a longevidade atuam provavelmente de forma independente e aditiva. Algumas teorias propuseram que vários genes devem atuar em conjunto para aumentar a expectativa de vida e, portanto, somente quando são herdados juntos seu efeito é observado. Esse fenômeno é chamado de epistasia, mas os autores não encontraram evidências de que ocorra para a longevidade; se fosse assim, deveriam ter observado uma correlação exponencial entre a data da morte e o parentesco, mas a proporção é direta, linear.


Transcrito de El País: